Australiana é presa no DF suspeita de racismo contra manicures; veja vídeo
Fonte:
Raquel Morais
Do G1 DF
Mulher chamou funcionárias de 'raça ruim' e criticou serviço, diz testemunha.
Ela foi levada para a Penitenciária Feminina do Gama neste sábado (15).
Uma australiana foi presa em Brasília
na noite desta sexta-feira (14) suspeita de agredir e ofender duas
funcionárias e uma cliente negras de um salão de beleza da superquadra
115 Sul, além de desacatar o policial militar, também negro, que a
conduziu à delegacia. Parte da situação foi gravada pela recepcionista
do local. O caso é investigado pela 1ª DP.
Segundo testemunhas, a suposta agressora tem cerca de 30 anos e entrou
no estabelecimento para fazer as unhas do pé. A primeira pessoa que ela
ofendeu foi uma manicure, que preferiu não se identificar por se sentir
envergonhada. A profissional foi contratada pelo salão há uma semana.
A suposta agressora foi levada para a delegacia e foi transferida neste
sábado (15) para a Penitenciária Feminina do Gama (Colmeia). Segundo a
Polícia Civil, ela vive regularmente no Brasil há cinco anos e já foi
detida por dirigir sob efeito de álcool.
"Ela chegou e perguntou se havia alguém que pudesse fazer o pé dela. A
recepcionista disse que sim, então ela sentou. Quando ela viu que seria
eu, disse que não queria", lembra a manicure. "Fiquei sem graça. Aí a
menina disse que tinha então outra pessoa, e ela respondeu que podia ser
a outra, porque ela era um pouco mais clara. Ela disse que eu era
escura demais para fazer a unha dela."
Minutos depois, a suposta agressora teria se incomodado com a presença
da manicure e pedido que ela se retirasse. "Ela disse: 'dá para você se
retirar? Sua presença está me incomodando. Eu não quero que você fique
perto de mim'. Subi na hora, não conseguia parar de chorar", conta a
profissional.
Dona do salão, Eliete Lima de Carvalho cuidava do cabelo de uma cliente e
só percebeu o problema quando viu a manicure chorando. A proprietária
subiu as escadas para o banheiro atrás dela para saber o que havia
acontecido e, depois, voltou ao salão para exigir que a cliente se
desculpasse.
"Ela disse que não ia se desculpar, que não tinha feito nada de errado.
E aí começou a falar do trabalho da outra manicure, dizendo que ficou
uma porcaria, que não ia pagar. Outra cliente, que é morena, ficou
irritada e pediu para ela abaixar o tom, então ela disse 'eu não sei por
que essas pessoas de raça ruim insistem em falar comigo'. Precisei
segurar a menina, que queria bater nela", conta Eliete.
A discussão evoluiu para bate-boca e gritaria. A dona do salão acionou a
Polícia Militar, mas a suposta agressora tentou fugir. Eliete afirma
que pediu mais uma vez que ela se desculpasse, que a situação poderia
ser contornada se ela reconhecesse que errou. "Ela disse que queria ver
quem iria prendê-la por isso", diz a proprietária.
Abordada por um PM negro, a australiana ainda teria gritado para que
ele não dirigisse a palavra a ela. A cliente ofendida, as funcionárias, a
dona do salão e a cliente de quem ela cuidava, que é advogada, foram
para a delegacia prestar depoimento.
Assustada e desconfortável, a manicure que não quis se identificar
disse que nunca passou por isso antes. "Ela insistiu que não queria
nenhum de nós, pretos, falando com ela. Disse que éramos raça ruim",
conta.
De acordo com os dados mais atualizados disponíveis no site da
Secretaria de Segurança Pública, houve 409 crimes raciais em 2012 no DF.
Protesto
Indignada com a situação, Eliete decidiu trabalhar com o cabelo o mais
volumoso possível neste sábado. "Não admito funcionário tratar mal
cliente, nem cliente tratar mal funcionário. E não admito preconceito,
de forma alguma", afirmou. "Ela me machucou profundamente. Agiu como se
fosse melhor por não ser negra ou porque acha que ser manicure é ser
inferior. Não aceito."
No momento da confusão, havia cinco clientes e nove funcionárias no
salão - quatro delas, negras. O estabelecimento funciona há dez anos.
Eliete disse ainda que, pela manhã, comentou com as funcionárias que
achou absurdo o ocorrido com o jogador Tinga, do Cruzeiro, vítima de
racismo durante partida contra o Real Garcilaso, pela Taça Libertadores,
no Peru. "Ainda falei que era inadmissível, que esse era o tipo de
coisa que eu não conseguia acreditar que ainda existia."
O episódio de racismo contra o jogador ocorreu na cidade peruana de
Huancayo. Tinga, que é negro, entrou no segundo tempo. Sempre que ele
tocava na bola, a torcida do time da casa, fazia sons que imitavam um
macaco.
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