Fonte: Marcelo Portela - O Estado de S. Paulo
Parceiros informais nas eleições de 2002 e 2006, ex-presidente e senador terão disputa particular no segundo maior colégio eleitoral do País, tanto na corrida presidencial como na estadual
Belo Horizonte - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o senador Aécio Neves (MG), pré-candidato do PSDB à Presidência da República, trocaram provocações nesta sexta-feira, 14, dando início à corrida pelo governo do Estado, segundo maior colégio eleitoral do País que desde 2003 é administrado pelos tucanos. Em reunião com aliados que precedeu o lançamento da pré-candidatura do ex-ministro Fernando Pimentel ao governo, em Belo Horizonte, Lula disse que está "mais em Minas que o Aécio", referindo-se à residência que o senador mantém no Rio de Janeiro, onde costuma passar os fins de semana.
Antes de um encontro com empresários em Nova Lima, na região
metropolitana da capital mineira, Aécio destacou que Minas é "sua casa" e
reagiu à presença do ex-presidente no Estado. "Tivemos aqui (nas
últimas eleições) a presença maciça, muitas vezes até radicalizada, do
ex-presidente da República, da presidente da República, e os resultados
vocês conhecem", afirmou. "Podem até querer fazer o mineiro de bobo, mas
o mineiro não é bobo. O mineiro sabe que os avanços mais relevantes que
tivemos ao longo desses anos se devem ao esforço do governo do Estado."
Os candidatos apoiados pelo tucano venceram as eleições majoritárias
de 2010 (Antonio Anastasia, do PSDB, para o governo) e 2012 (Marcio
Lacerda, do PSB, reeleito prefeito de Belo Horizonte) contra candidatos
petistas. Na disputa deste ano, o PT considera que tem mais chances de
chegar ao Palácio Tiradentes e quer fazer da eleição em Minas uma forma
de "entrincheirar" Aécio no seu principal reduto eleitoral.
No período em que ocuparam, respectivamente, a Presidência e o
governo mineiro, Aécio e Lula mantinham um relacionamento bastante
amistoso. Quando foi eleito em 2002, o petista chegou a prometer tratar o
futuro governador tucano como um quadro de seu próprio partido. Em
2006, fizeram até uma chapa informal chamada "Lulécio", com voto em Lula
para o Planalto e Aécio para o governo. A relação entre eles, porém,
esfriou após a eleição de 2010.
Nesta sexta, Aécio disse que Lula está "mal informado pelos seus
aliados no Estado" ao pregar que nos últimos anos Minas se beneficiou
basicamente de recursos federais. "Não existe dinheiro federal, dinheiro
estadual, dinheiro municipal; existe dinheiro público. Dinheiro vindo
dos nossos impostos. Do trabalhador, do povo mineiro. E as parcerias que
o governo federal deveria fazer com Minas Gerais, nas questões
essenciais, não foram feitas."
Na reunião fechada com aliados, Lula avaliou que a eleição mineira
terá "uma polarização clara" entre o petista e o ex-ministro Pimenta da
Veiga, futuro candidato do PSDB. O lançamento da pré-candidatura de
Pimenta da Veiga, previsto inicialmente também para ontem, foi adiado
para a próxima semana para não coincidir com o ato petista.
Lula fez uma avaliação de que a eleição mineira terá "uma polarização
clara" entre o petista Fernando Pimentel e o ex-ministro tucano Pimenta
da Veiga, cuja pré-candidatura será lançada na semana que vem pelo
presidente nacional do PSDB.
Para tentar chegar pela primeira vez ao poder em Minas, o PT trabalha
para atrair para a candidatura de Pimentel partidos que são da base do
governo federal, mas, no Estado, estão aliados do governo do PSDB.
A reunião de Lula em um hotel de luxo da cidade, porém, tinha como
foco a tentativa de amarrar o apoio do PMDB. Principais aliados do
governo da presidente Dilma Rousseff, os peemedebistas reivindicam as
vagas de vice-governador e para o Senado na chapa encabeçada por
Pimentel.
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Andrade,
afirmou que a aliança entre o PMDB é o PT na eleição para o governo de
Minas é "mais que natural". Andrade, do PMDB, é cotado para ser vice na
chapa de Pimentel. "No governo federal nós somos base. Estamos juntos e é
mais que natural uma composição em Minas também", afirmou.
Contudo, uma ala do PMDB estadual, liderada pelo senador Clésio
Andrade, insiste na candidatura própria. Clésio, ex-vice-governador do
Estado no primeiro mandato de Aécio e réu em ação penal do mensalão
mineiro que tramita no Supremo Tribunal Federal, trabalha para ser o
candidato do partido, mas sofre resistência dentro do próprio diretório
estadual.
Personagens dos processos relacionados ao mensalão mineiro têm
permeado a disputa estadual após o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, recomendar na semana passada a condenação a 22 anos de
prisão do ex-governador de Minas, Eduardo Azeredo (PSDB). Nesta sexta,
Lula recebeu para um encontro fechado seu ex-ministro Walfrido dos Mares
Guia - que se livrou recentemente da acusação no mensalão mineiro por
completar 70 anos.
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