sábado, 15 de fevereiro de 2014

Homem tenta vender dois bolivianos por R$ 2.000

Fonte: Folha de S. Paulo

Após agenciar viagem, suspeito teria buscado reaver dinheiro em feira no Brás

Ministério Público do Trabalho de São Paulo abriu inquérito para investigar; vítimas voltarão para Bolívia

ADRIANA FARIAS, DHIEGO MAIA, FELIPE SOUZA E SILVIO CIOFFI

DE SÃO PAULO


Um boliviano está sendo procurado sob suspeita de tentar vender dois jovens compatriotas por R$ 1.000 cada em uma feira livre na rua Coimbra, no Brás, na região central de São Paulo.
De acordo com a Polícia Militar, o suspeito, identificado apenas como Serapio, fugiu. Os jovens estão sob proteção em uma paróquia na capital paulista. Procurados ontem pela Folha, eles não quiseram comentar.

O caso, segundo a PM, ocorreu por volta das 18h50 da última segunda-feira. Ele foi revelado pela rádio CBN.
Segundo o padre Roque Patussi, do Cami (Centro de Apoio ao Migrante), que acompanhou a situação, os jovens bolivianos são maiores de idade e foram aliciados ainda na Bolívia com a promessa de que receberiam US$ 500 mensais (em torno de R$ 1.200) cada um para trabalhar numa confecção.
Quando chegaram ao local do trabalho, no centro de São Paulo, eles foram informados que o salário seria menor.
Diante da recusa em aceitar trabalhar, eles entraram em desacordo com o suspeito. Isso teria motivado a tentativa de venda deles.
O consulado da Bolívia no Brasil informou que vai custear o retorno das duas vítimas ao país de origem.

REVISTA

Segundo comerciantes da rua Coimbra ouvidos pela Folha, os rapazes foram oferecidos a pessoas que passavam em frente a uma agência de empregos na rua Coimbra.
A Polícia Militar foi acionada e, chegando lá, segundo testemunhas, revistou as vítimas como se elas fossem suspeitas. Na confusão, o homem que tentava vender os dois jovens fugiu.
Questionada ontem, a PM não comentou a maneira como atendeu à ocorrência.
A comerciante Maria Gutierrez, 40, afirmou que o suspeito pagou para os jovens viajarem ao Brasil.
"Um homem que passava pela rua não aceitou a proposta para comprar os garotos, mas propôs levar os meninos para trabalhar. Assim, eles mesmos pagariam a dívida, mas não houve acordo", disse Gutierrez.
A cena revoltou as pessoas que estavam na feira, muito frequentada por imigrantes sul-americanos.
O segurança Ricardo Pereira de Brito, 43, trabalha na rua Coimbra há dez meses e disse que nunca tinha visto um caso semelhante.
"Quando o cara [boliviano] tentou vender os dois meninos muita gente ficou revoltada. Ele queria vendê-los para recuperar o dinheiro gasto", afirmou o segurança.
Os dois jovens acabaram levados pela polícia ao 8° Distrito Policial (Brás). Eles não registraram queixa na delegacia por medo de a denúncia comprometer a vida de suas famílias na Bolívia.
A Polícia Civil se limitou a dizer que não houve registro de boletim de ocorrência e que o delegado titular, Antonio Tadeu Rossi Cunha, não foi notificado "sobre qualquer representação exigindo a investigação" do caso.

RELATÓRIO

O Cami entregou relatório sobre a situação à Coordenadoria de Enfrentamento do Tráfico de Pessoas da Secretaria Estadual de Justiça e Defesa da Cidadania.
O Ministério Público do Trabalho de São Paulo afirmou que abriu um inquérito para apurar a denúncia.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a procuradora Cristiane Vieira Nogueira, responsável por investigar casos de trabalho escravo na capital, informou que esta é a primeira ocorrência de tentativa de venda de um trabalhador registrada pelo órgão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário