Cada vez menos relevante, o MST encontra nos tumultos um meio de chamar a atenção de uma sociedade voltada para outras causas
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) chega ao seu 30º aniversário como se ainda fosse uma criança.
Não vai na afirmação um elogio pelo frescor de suas ideias, pois estas
são arcaicas, ou pelo espírito alegre de suas manifestações, já que
nelas se destaca o caráter arbitrário e o pendor para o confronto.
É uma criança porque não amadurece. Repete palavras de ordem criadas na
década de 1980, quando os quase 40 milhões de brasileiros que viviam na
zona rural representavam 32,3% da população.
De lá para cá, no
entanto, dobrou o número de habitantes nas cidades, passando de 82
milhões para 161 milhões, enquanto diminuiu o total de pessoas nos
campos. Agora são 30 milhões, ou 15,6% da população nacional.
Houve, ademais, notável avanço do agronegócio. O setor é um dos que mais
se moderniza no Brasil, ostentando seguidos saltos de produtividade. Se
cabem críticas, elas não chegam perto de sugerir a necessidade de
alterar um modelo que se provou bem-sucedido.
O MST, a despeito
disso, insiste numa reforma agrária utópica. Líderes da organização até
são capazes de enunciar um diagnóstico óbvio: a luta pela terra está
fora da pauta da sociedade e do governo.
Dificilmente seria de
outra forma num país que, além das mudanças demográficas, registra
ínfimos índices de desemprego e atende 50 milhões de pessoas com
programas de transferência de renda.
Em vez de dar o passo
seguinte no raciocínio --a batalha que o MST trava hoje em dia é
imaginária--, a direção do movimento empenha-se em elaborar
interpretações mirabolantes. Às já clássicas expressões, como
"cooptação" e "despolitização", acrescenta-se o entendimento de que a
luta existe, "mas está escondida, abafada".
É um despautério. O
país conhece inédita rotina de protestos nos principais centros urbanos.
Muitos gritos se escutaram, muitas placas, cartazes e faixas se
escreveram. A bandeira da reforma agrária, entretanto, não foi erguida.
Talvez por causa desse sinal de irrelevância o MST considerou
importante chamar a atenção por outros meios. Anteontem, em Brasília,
alguns de seus integrantes ameaçaram invadir o Supremo Tribunal Federal e
provocaram tumulto na praça dos Três Poderes.
O grupo ganhou o
noticiário, como decerto desejava, mas não por suas ideias ou sua
pujança. A organização já não mobiliza como na década de 1990, e sua
direção é cada vez mais refém do próprio movimento, vendo neste um fim
em si mesmo, e não apenas um meio.
Está na hora de o MST
crescer, mas de nada ajuda que, um dia depois da confusão, a presidente
Dilma Rousseff tenha se reunido com líderes da entidade. Passa a falsa
impressão de que eles estão no caminho certo.
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